Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

21 junho 2007

 

Barbarians at the gate III


Exemplo prático 2: Gulf Oil

No início dos anos 80, a Gulf Oil anunciou que pretendia concentrar-se em partes da sua actividade no sector petrolífero, uma vez que a evolução do mercado tornara as multinacionais com integração vertical completa algo de obsoleto. No seu caso, a gestão da Gulf tinha especial interesse na exploração e desenvolvimento (que é como quem diz, queria procurar e desenvolver novas reservas de petróleo). Já tinha passado quase uma década desde os oil shocks dos anos 70, o valor do petróleo parecia ter encontrado um nível permanentemente alto, e todos os grandes gurus previam o fim do "ouro negro" para o início do século XXI (aqui podemos fazer uma pausa para rir a bandeiras despregadas). Pronto. Continuemos.

O preço das acções da Gulf Oil na altura era de cerca de 40 dólares. T. Boone Pickens, um conhecido raider texano, ofereceu 65 dólares por acção para assumir o controlo da empresa. Depois de alguns meses de batalha, em que também a sempre presente KKR esteve envolvida, a Chevron acabou por "salvar" a Gulf de cair nas mãos de Pickens, comprando-a por cerca de 80 dólares por acção (na altura a maior aquisição de sempre, que viria a ser ultrapassada anos mais tarde pela já referida operação com a RJR Nabisco). Mais uma vez: Irracionalidade do mercado? Que explica tamanha diferença?

Este caso é relativamente simples. Apesar do que diziam os gurus, a exploração e desenvolvimento da Gulf tinha uma taxa interna de retorno de apenas 7,9%. Isto comparando com um WACC (custo de capital médio ponderado) de 15,3%. Ou seja, o valor actualizado líquido dos novos poços de petróleo da empresa era negativo. Mais concretamente cerca de 38 dólares por acção. Que significa isto? Que os agentes no mercado sabiam que a prospecção da Gulf era mau negócio, e que se a gestão a abandonásse, a empresa valeria os 40 dólares do preço das acções mais os 38 vindos do abandono da actividade negativa, ou seja 78 dólares por acção. Curiosamente, como forma de verificar o quanto o mercado encarava negativamente a estratégia da gestão da Gulf Oil, se calculássemos o valor actualizado do petróleo dos poços que a empresa tinha em actividade, obteríamos cerca de 70 dólares (mesmo ignorando assim o valor das restantes actividades de retalho da empresa, é um valor muito acima dos 40 praticados então na bolsa).

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